“Façam exercícios, mas não se esqueçam de ensinar os vossos jogadores”

Uma análise de um comentário de Don Harnum

Esta afirmação foi proferida pelo treinador norte-americano Don Harnum, num Clinic da ANTB em 2000 e relaciona dois elementos muito próximos, mas que não se podem confundir: os exercícios e o ensino.

 

Durante o processo de formação curricular aprende-se desde logo que um dos momentos mais importantes para o exercício da função de treinador é a elaboração da sessão de treino, em que se recorre aos exercícios mais adequados aos objetivos de treino, ao momento da época e às características dos jogadores.

 

No entanto, a eficácia dessa tarefa, naturalmente preparada com antecipação, só é verdadeiramente alcançada com a realização concreta desses mesmos exercícios e apenas perante uma atitude correta tanto do treinador como dos jogadores face aos mesmos.

 

É no exercício que se treina a componente física e a componente técnico-tática. É também no exercício onde uma boa parte da preparação psicológica dos jogadores é realizada, treinando-se a persistência, a determinação, a reação à adversidade e ao sucesso, o espírito de sacrifício, a solidariedade, a integração do individual de cada jogador na unidade superior que é a equipa.

 

O treinador não pode limitar-se a deixar os seus jogadores “fazerem os exercícios”, nem ficar satisfeito por ter respeitado o tempo que destinou a cada um deles.

 

É nesses momentos que vai ser necessário provocar o empenho dos jogadores e, pelo menos em igual dimensão, criar o seu próprio empenho, certamente que não do mesmo tipo, mas cuja veracidade é preciso que seja sentida pelos jogadores.

 

A intervenção dos treinadores, face aos exercícios, tem de ir muito para além do que por vezes acontece nos chamados “treinadores polícia-sinaleiro”, que apenas se ouvem quando é chegado o momento de mudar de exercício, ou cuja voz quase só se faz ouvir para corrigir uma deficiente troca de colunas.

 

Se é o empenho e a participação consciente dos jogadores que dá ao exercício o seu verdadeiro significado, o treinador não fica alheio à qualidade deste processo.

É durante o decorrer do exercício que essa responsabilidade mais se manifesta.

 

É nesses momentos que a sua ação é determinante, distribuindo a sua atenção e as suas correções por todos os jogadores, acompanhando os seus desempenhos com comportamentos de proximidade, intervindo de forma oportuna e adequada sobre as ações e reações dos jogadores, motivando e apoiando o seu esforço, corrigindo e elogiando na devida proporção, seja com intervenções individuais, sobretudo para correções de pormenor, seja com correções de âmbito mais geral, destinadas a todos os participantes, chamando a atenção para deficiências comuns.

Só nestas condições podemos dizer que os jogadores estão a aprender e o treinador está verdadeiramente a ensinar.

 

É por isso que não basta fazer exercícios! É preciso fazê-los corretamente, o que obriga a uma participação atenta, empenhada e consciente tanto dos jogadores como do treinador.

Comentado por Prof. Jorge Adelino
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