A Mulher e o Desporto

8 de Março - Dia Internacional da Mulher

Em março de 1857, quando operárias da indústria têxtil em Nova Iorque fizeram uma greve pela igualdade de salários, foram encerradas na fábrica, onde devido a um incêndio, 130 morreram queimadas. Alguns anos depois, 1910, uma Conferência Internacional de Mulheres, realizada na Dinamarca, aprova por proposta de Clara Zetkin, o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher.

 

A partir daqui a data tornou-se um referencial da luta das mulheres, pela defesa dos seus direitos, contra a guerra e pela paz, pela liberdade, pela democracia e a consagração de direitos fundamentais na lei, e no pulsar do seu dia a dia. Numa sociedade profundamente patriarcal, também no nosso país é bom recordar, que o regime fascista cerceava os mais elementares direitos às mulheres, são exemplo o não acesso a algumas profissões, a necessidade de autorização dos pais ou marido para poder viajar para fora do país, a não autorização para abertura de uma empresa em nome próprio, o direito a votar, etc.

 

A Revolução e Abril veio felizmente dar um impulso e um contributo à sua luta e começou por consagrar na Lei Fundamental, a Constituição da República, a igualdade entre homens e mulheres. Contudo nos tempos que vivemos, ainda muito está por fazer e para melhor o compreenderemos, vejamos alguns indicadores:

  • Segundo os Censos de 2021 as mulheres em Portugal têm o primeiro filho em média aos 30,9 anos. Em 1960 esta média era os 25 anos.
  • Nas eleições autárquicas de 2021, foram eleitas 29 mulheres para presidentes de Câmaras Municipais, quando em 2017 tinham sido 32.
  • Num estudo da CGTP sobre a situação da mulher no trabalho em Portugal, as mulheres recebem salários-base 13% mais baixos do que os homens, diferença que aumenta entre os mais qualificados. Mas também são mulheres, 53%, o maior número de desempregados.
  • Nas eleições legislativas de 2022, só 85 mulheres, menos de metade da composição do Parlamento (230 deputados) foram eleitas em Portugal e até hoje só um mulher foi primeira-ministra.

 

Se nos situar-nos num nível mais geral, podemos referir também que em 2020 cerca de 47 mil mulheres e raparigas foram mortas pelos seus companheiros íntimos ou por outros membros da família, os homens têm 21% mais de possibilidades de ter aceso à Internet que as mulheres, e as mulheres são apenas 3% dos laureados do Prémio Nobel, em categorias científicas desde 1901.

 

Também no Desporto e entre nós a situação não se apresenta muito animadora. Apesar da cada vez maior visibilidade das mulheres no desporto, continuam no entanto em minoria embora segundo o Censos de 2021 o número de mulheres corresponder a 52,4% da população.

 

O Grupo de Trabalho para a Igualdade de Género, no seu relatório de 31 de Janeiro de 2023, no diagnóstico apresenta-nos alguns dados indicativos desta situação. O Eurobarómetro (2022), sobre Desporto e Actividade Física, revela-nos Portugal como um País sedentário, aparecendo as mulheres com 85% de ausência de actividade, superior aos homens com 75%.

 

Nos praticantes filiados nas Federações Desportivas, no geral as mulheres representam 28% contra os 72% dos homens. No desporto de Alto Rendimento a diferença é um pouco menor 38% são mulheres e 62% são homens. Também no dirigismo a situação é reveladora, nas 10 Federações Desportivas com maior financiamento público em 2021, não existia uma única mulher a liderar, estando apenas com 12,8% no cargo de vice presidentes. Também nas 10 federações com maior número de praticantes, não ocupam nenhuma presidência, estando só em vice-presidências com 16,2%. Se nos referirmos a outras funções, por exemplo treinadoras, só 15% de mulheres se encontram filiadas nas Federações Desportivas, contra 85% dos homens e com o título profissional válido só 17,7% tem Grau I e 2,2% Grau IV. Já no desempenho de árbitras as mulheres são 23,1% filiadas nas federações e 34% no Alto Rendimento.

 

Os dados aqui apresentados, não deixam margem para dúvidas da preocupante situação de secundarização em que continuamos a encontrar as mulheres raparigas, ainda que nos vão aparecendo situações positivas que não alteram este quadro. Por exemplo, ao nível das praticantes federadas e sem considerarmos o atípico tempo do COVID, verificamos por exemplo no Futebol um crescimento superior ao dobro nos últimos dez anos, assim como no Basquetebol no mesmo tempo se verificou um crescimento progressivo de cerca de 1/3 mais.

 

Porém o quadro político, social, empresarial, económico e desportivo não denota grandes mudanças, pelo contrário, em todo o mundo o progresso dos direitos das mulheres, a que a sua luta conduziu está a regredir. São precisas mudanças estruturais, mas muito especialmente mudanças culturais, como se diz, de mentalidades em todos aqueles campos, de modo a que os mais elementares direitos humanos sejam respeitados e não violados, como continuamos a assistir com as mulheres.

 

Políticas de integração, de financiamento, de educação e de comunicação, que não descriminem, mas integrem, apoiem, formem e esclareçam, informem e criem as condições para que a sociedade no seu todo respeite os direitos inalienáveis das mulheres, que o são de uma sociedade justa, equilibrada, democrática e progressista.

 

No caso do Desporto, muito é possível e necessário fazer, desde logo aumentar a participação das mulheres e raparigas na prática desportiva:

  • Criando planos de ação e intervenção para a igualdade;
  • Estabelecer mecanismos para incentivar a prática desportiva das raparigas e mulheres;
  • Promover a conciliação entre a vida pessoal, familiar, escolar e profissional e o desporto;
  • Garantir igualdade de acesso aos recursos.

 

Estas são, entre outras, algumas recomendações e ideias que o relatório do Grupo de Trabalho para a Igualdade de Género, que atrás aludimos indica. Muito mais há para fazer, mas federações/associações, escolas, clubes e famílias podem associar-se e dar respostas claras e positivas nestas direções.

 

Hoje são muitas as razões e os motivos para afirmar o Dia Internacional da Mulher, quando estão sujeitas a sacrifícios diários como cidadãs, trabalhadoras e mães, e vêm ser hipotecados os seus direitos.

 

Por isso, a luta em defesa dos direitos das mulheres, também no desporto é razão de todos nós e o dia 8 de Março foi, é, e será, certamente um marco, num país que se pretende democrático, justo, soberano, desenvolvido e de progresso social.

Comentado por Prof. Rogério Mota
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